Opinião: A militância ignorante contra os esportes de combate

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Os jogos olímpicos de Tóquio chegaram ao fim e o Brasil continua ganhando medalhas no boxe. Hebert Conceição foi responsável pelo ouro canarinho. No entanto, é de se espantar que em pleno 2021 seja possível ler na Folha de SP, através do colunista Roberto Dias que o “Boxe não é esporte e deveria ser banido das olimpíadas.” É uma visão totalmente calcada no desconhecimento do esporte e da sua cultura. Uma visão reducionista em que o autor afirma que o esporte se resume apenas a uma mútua agressão. 

Ao longo da história, toda e qualquer manifestação cultural popular sempre foi reduzida e questionada de forma negativa. Foi assim com o samba, com a capoeira e continua sendo assim com as manifestações de matrizes africanas, com o samba e com o boxe. O esporte é praticado quase em sua totalidade por pessoas negras. Exemplo claro disso é o plantel dos representantes brasileiros da modalidade: de sete boxeadores e boxeadoras, nenhum é branco. 

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Hebert Conceição conquistou o ouro olímpico (Foto: Reprodução/AFP)

O boxe é praticado por pessoas inteligentes e providas de total racionalidade. Existem regras, é exigido inteligência no momento do combate. O conceito de esporte enquadra completamente as lutas em si. O boxe, por exemplo, é uma atividade física, possui regras fixas e é regulamentado por comissões. O MMA, que também foi problematizado, se enquadra nos mesmos conceitos. Aliás, diferente do que disse o jornalista, Conor McGregor não é boxeador.

No MMA, existe um conjunto de regras chamado “Regras Unificadas do MMA“, além disso, os atletas lutam em faixas de peso iguais. Não existe nos esportes do combate um lutador disputar um combate contra um atleta 20Kg mais leve, como acontece em Palmeiras x Fortaleza quando o gigante Gustavo Gomez (85Kg) disputa com o pequeno Yago Pikachu (63Kg). Essa afirmação não é falando mal do futebol, do qual também existem inúmeros preconceitos e do qual sou fã, mas apenas um exemplo de como as regras existem no MMA para resguardar a integridade física dos atletas.

Por fim, muito se fala em lesões. No entanto, todo e qualquer esporte de alto nível traz prejuízos para a saúde dos atletas a médio/longo prazo. As cenas chocantes de lesões como as que aconteceram com Chris Weidman e Anderson Silva, acontecem frequentemente no futebol, mas no MMA as lesões são vistas “limpas” pois os jogadores estão sempre com meiões e caneleiras. No vôlei, são comuns lesões graves no joelho após um jogador acidentalmente pisar no pé do companheiro de quadra.

Além disso, no futebol americano, é muito comum atletas terem concussões, sendo que de todos os esportes, o futebol americano é o que mais possui atletas com lesões desse tipo. Portanto, de acordo com a National Collegiate Athletic Association (NCAA), as concussões representam 7,4% de todas as lesões em jogadores de futebol americano universitário.

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Boxe e MMA: Esportes!

Assim, o MMA e o Boxe não se distanciam em nada em termos de lesões ou problemas de saúde com relação a outros esportes. Além disso, são práticas que, como o futebol, tiram inúmeras pessoas do mundo do crime, das ruas e em muitos casos, garante melhores condições de vida. Atletas de todos os cantos do mundo treinam horas por dia, às vezes abdicando de muita coisa para se dedicar ao esporte.

Portanto, dizer que as lutas não se configuram como um esporte é um grande desrespeito contra milhares ou talvez milhões de pessoas que vivem em prol do desporto, além de ignorar inúmeros fatos positivos na vida dos praticantes, o papel do jornalismo não é desinformar, como fez o jornalista Roberto Dias.